Sobre as Vitórias Que a História Não Conta

Esta obra é constituída de narrativa envolvente que combina ficção e momentos históricos relevantes para a compreensão do Brasil enquanto sociedade escravocrata. Tomando como ponto de partida o nefasto tráfico atlântico, o texto se debruça sobre a trajetória de vida de dois irmãos gêmeos -- Akin e Olakundê --, capturados em seu território de origem na África e submetidos à violência peculiar ao escravismo colonial: sistema abominável que, paradoxalmente, coexistia com a modernidade ocidental. Após sobreviverem à travessia ambos se tornam mercadoria. Nada de surpreendente até então, não fosse pelo fato de o proprietário de seus corpos ser um negro de ganho convertido ao islamismo. Tal particularidade fará toda a diferença no que concerne às experiências de vida desses jovens no Novo Mundo. Ao serem inseridos no universo da cultura muçulmana eles acabam se identificando com as revoltas protagonizadas por escravizados cujas etnias eram herdeiras do legado árabe, presente na África séculos antes da colonização europeia. No cerne da trama encontra-se a Revolta dos Malês, ocorrida em janeiro de 1835, na Bahia, onde as insurreições urbanas se tornaram uma das evidências daquilo que afirmava Joel Rufino dos Santos: "-- A história da escravidão é também a história das lutas contra a escravidão". Nelson Fernando Inocêncio da Silva.
(Professor Doutor da Universidade de Brasília -- UnB).