av Mario De Sa-Carneiro
155,-
"Sim, Inácio de Gouveia em verdade não tinha razões para se queixar da existência. (...) Não haveria mãos enastradas nem lábios para morder, nem afetos ou amores - uma multidão de insignificâncias violetas, risonhas, carinhosas. Mas, a compensá-las, havia grandes maços de jornais, os volumes sagrados da sua biblioteca, e, sobretudo, as suas obras - ah! as suas obras" "Uma noite, casualmente, [Inácio] encontrara-se num pequeno teatro vermelho para Montmartre, bocejando o seu tédio. (...) entre as intérpretes da revista idiota, os seus olhos fixaram-se numa dançarina meia nua - esplêndida, duma beleza enclavinhada: corpo agreste, musculoso, seios oscilantes, pequenos e esguios" e Inácio apaixonou-se. Também "Étienne Dalembert, incerto comediógrafo e jovem ator mais incerto que [Inácio] mal conhecia", se deixa fascinar pela mesma bailarina. E é este sentimento comum, que os deveria afastar como rivais, que estranhamente os une, porque Étienne, "pelo menos, fora sensível ao que ele próprio sentira..."