av Jeanette Rozsas
335,-
Em meio ao burburinho da Avenida Presidente Vargas, em pleno meio-dia de mais um tórrido dia de verão no Rio de Janeiro, chamava a atenção aquele senhor muito ereto, de baixa estatura, barba bem cuidada, vestido com uma pesada sobrecasaca cinza escuro e cartola preta. O coitado devia estar fritando de calor. Apoiado em uma bengala, ajustava seus óculos de aro fino e olhava para todos os lados com ar de espanto. Era Machado de Assis, renascido não se sabe como, em pleno século XXI. O que acontece depois, só lendo esse extraordinário livro de Jeanette Rozsas. Neste livro você encontrará além de uma riqueza de imagens que ilustram e situam os leitores no Rio de Janeiro antigo durante a leitura: Biografia ilustrada do autor; Glossário; Aperitivos; VIAGEM NO TEMPO Como nos melhores filmes ou séries de ficção científica com viagens no tempo, uma estudante carioca às voltas com um trabalho escolar sobre Machado de Assis encontra na rua um circunspecto senhor barbudo, de casaca, cartola e pince-nez. De início acredita ser um ator, mas logo se convence de que é o próprio Machado, que deixou a Eternidade para revisitar os lugares onde viveu. Jeanette Roszas, autora de admiráveis romances com personagens literários ¿ Kafka, Edgar Allan Poe, Frankenstein ¿ e reais, como o estranho e chocante personagem de Morrer em Praga ¿ se apodera agora do corpo e da alma de nada menos que o maior escritor brasileiro. Com uma linguagem saborosa, constrói um diálogo entre a moça e o velho senhor, que passam a peregrinar pelo Rio de Janeiro de hoje. Machado, com sua linguagem e termos do século XIX, espanta-se com os ruídos da metrópole, mas também revela que viver no Rio de seu tempo era uma temeridade: a cidade fedia, não havia saneamento, as caleças e carruagens pulavam nas ruas esburacadas, havia tensão política nos salões e nos jornais. Mas havia uma vida intelectual vibrante, peças teatrais e musicais, saraus, reuniões literárias e filosóficas em locais que ainda hoje sobrevivem. Muitas coisas aconteciam no tempo do Imperador e da Primeira República, nos palácios e nas mesas das confeitarias Castelões, Colombo (aberta até hoje), Carceller e Pascoal, por cujas portas passava apenas a elite ¿ o povo nem chegava perto. Machado relembra sua vida, do nascimento à morte, a infância humilde, sua determinação em estudar e sair da pobreza, sua vitória e o sucesso, seu casamento bem-sucedido com a portuguesa Carolina ¿ única mulher a quem amou, embora cortejado por outras mulheres da Corte, aquelas de ¿olhos oblíquos¿, como os de Capitu, que resplandeciam nos salões. Fala de seus livros, de seu método criativo, comenta sobre os personagens, reclama das casas que foram demolidas e que lhe traziam boas lembranças, discorre sobre as mudanças na cidade e na sociedade, resmunga e tropeça ¿ sem perder a elegância e a fleuma de leitor dos clássicos ingleses e franceses Jeanette é extremamente bem¿sucedida em sua tarefa de recriar o ¿personagem¿ Machadinho, suas ideias e seu tempo. Machado de Assis pulsa em cada linha, diante do olhar embevecido da estudante, e surge diante do leitor de forma tão viva e cativante, que uma leve melancolia nos assalta quando o livro acaba. Luiz Fernando Emediato, Editor